Em Belém, crianças estão deixando de se vacinar devido a uma informação falsa sobre alergia a ovo. Em alguns locais, o médico pediatra está pedindo autorização para aplicar a vacina na criança, caso ela ainda não tenha ingerido o alimento. Nos consultórios, os pais relatam que bebês não foram vacinados porque eles foram informados de que as crianças deveriam primeiramente consumir ovo para saber se são alérgicas ou não, para depois tomarem as vacinas. Esta orientação está sendo feita em centros particulares de vacinação.
De acordo com o médico pediatra alergista/imunologista e coordenador do Departamento de Alergias na Infância da Associação Brasileira de Alergia, Bruno Paes Barreto, há muita desinformação sobre esta questão. “O que a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia determina, é que as vacinas que contém resquícios de ovo na sua composição, sobretudo a vacina de Febre Amarela e a vacina da Influenza (Gripe) só devem ser evitadas em situações onde o risco supera o benefício, ou seja, pacientes que tem alergia a ovo comprovada em grau elevado e que já fizeram a reação alérgica grave (reação anafilática) ao ovo. Nestes pacientes, tem que ser levado em consideração a possibilidade de não aplicar a vacina no momento e sim esperar a criança melhorar da sua sensibilidade”, explicou.
Bruno Barreto ainda afirmou que não existe nenhuma contraindicação para vacinar crianças que tenham suspeita de alergia a ovo, ou tenham alergia a ovo num grau leve, onde o risco da vacina é muito inferior ao benefício da vacina. “Resumindo, só se evita a vacina para crianças que são alérgicas a ovo em grau elevado e que já tiveram reação grave. Fora isso, a vacina deve ser feita em todas as crianças”, finalizou.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, a vacina da febre amarela e a da gripe, em especial, tem cultivadas em sua composição embriões de galinha e por isto há traços de algumas proteínas do ovo nesses imunizantes. “Crianças que têm alergia grave a ovo é que têm que tomar cuidado, especialmente com a vacina da Febre Amarela. No caso da vacina da gripe, a quantidade de proteína de ovo de galinha é tão pequena que hoje a gente não faz mais nem triagem, não se pergunta se as pessoas que vão tomar vacina de gripe são alérgicas porque não há descrição. Essa é uma recomendação inclusive internacional da Academia Americana de Pediatria, de todos os países.
A concentração da proteína do ovo é muito baixa e não há nenhuma preocupação com alergia ao ovo ao vacinar crianças que são alérgicas ou não” explicou o órgão. No caso do imunizante da Febre Amarela, que possui uma concentração maior de ovo, a preocupação é em relação ao choque anafilático. Ao entrar em contato com alguma substância, o sistema imunológico reage de forma exagerada e pode produzir convulsões, AVC, segundos ou uma hora depois a exposição à substância, ou seja, pessoas que se comerem ovo vão para UTI e tem um quadro grave precisam ter cuidado ao se vacinar contra febre amarela.
Ainda de acordo com órgão, pacientes alérgicos a ovo, tem um quadro muito mais grave ao comer o alimento do que ao receber a vacina, então não faz sentido você expor o paciente à substância para fazer um teste para saber se é alérgico ou não. Isto não se faz para nenhuma vacina. Nem febre amarela, nem gripe precisa mandar comer ovo antes de vacinar. Infelizmente, muitos profissionais de saúde ainda orientam para ingerir ovo antes de tomar vacina, o que é um enorme equívoco.