Após dez longos anos sem alteração no valor das bolsas de pesquisa, cientistas brasileiros comemoram o reajuste anunciado pelo governo federal. Diferentemente do que se pensa, a bolsa de pesquisa financiada pelo governo não é um auxílio ou benefício a parte, a bolsa é o “salário bruto” do pesquisador, que não conta com mais nenhum tipo de direito trabalhista, como a contribuição para aposentadoria, férias, seguro desemprego e afins. É um claro indicador de um modelo insustentável de trabalho que se perpetua e não progride para além de reajustes tardios.
Os cientistas a que me refiro aqui são a classe de profissionais que fazem pós-graduação (em diversas áreas), sobretudo em instituições federais. Embora o reajuste para essa classe varie entre 25% e 200%, não é ideal, visto que os profissionais de mestrado e doutorado que produzem a maior parte das pesquisas científicas no Brasil, não tiveram os valores reajustados adequadamente, com o reajuste efetivado em 40%. As bolsas dessa categoria estavam defasadas em 70% considerando os valores anteriores de 1.500 reais para mestrado e 2.200 reais para o doutorado, sem modificação desde 2013. Os novos valores são de 2.100 e 3.100 reais respectivamente.
O reajuste torna-se simbólico pelo fato de ser anunciado pela primeira vez com o presidente da república, junto da classe de pesquisadores representadas por entidades como a ANPG e com cientistas respeitáveis nas agências de fomento como A Dra. Mercedes Bustamante à frente da CAPES e o Dr. Ricardo Galvão à frente do CNPq, um notável compromisso, mesmo que inicial, com a ciência brasileira. Ainda houve o anúncio da maior quantidade de bolsas que serão disponibilizadas, o que trará mais incentivo para a carreira acadêmica. Todos os reajustes podem ser consultados nesta portaria. É interessante ressaltar que as bolsas de maior valor tiveram menor porcentagem de reajuste, as de menor valor tiveram maior reajuste. Os bolsistas de graduação (iniciação científica), por exemplo, tiveram reajuste em 75% o valor pulou de 400 para 700 reais.
Os próximos passos para a melhoria das condições desses profissionais deverá ser o reajuste dos valores das bolsas em curto prazo e a conquista de direitos trabalhistas. Há esperança, espera-se que um dia a educação, a formação científica e o investimento em ciência seja prioridade. Isso trará a possibilidade de nos desenvolvermos enquanto sociedade de maneira consciente, buscando usufruir do conhecimento produzido nas universidades e centros de pesquisa do nosso Brasil.